LUIZ GILBERTO DE BARROS - LUIZ POETA
3ª Edição - Rio de Janeiro
Quando grito, o eco não me escuta,
Solta-se nos ermos dessa gruta
Onde um povo, sem perspectiva
Sente a mesma dor que me perscruta
Ouvindo os sussurros de uma puta
Temendo que um feto sobreviva...
Choro um riso tênue que naufraga,
Cada gota é lâmina da adaga
Límpida à luz fria da Lua
E nesse torpor que me embriaga,
Cada emoção que me afaga
Deixa minha mão ser minha e tua.
Dentro do intestino do planeta,
Cérebros são tiros de escopeta
Assustando a dor que regurgita
Flores... a golpes de baioneta...
Manchando de sangue, a pele preta
De um povo que sofre, mas não grita.
Na TV a foto não é nossa
E cada disfarce nem esboça
Nossa angústia, vendo, na sarjeta,
Um pouco de nós na mesma fossa,
Onde a tarde vã do sonho adoça
A boca que mama em nossa teta.
Na planície dos meus devaneios,
Cada inteiro se reparte em meios
E, de um coração que eviscera,
Meus e teus são todos os receios
Presos na inércia dos anseios
Ante as presas... sóbrias... de uma fera.
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